terça-feira, 25 de junho de 2019

Conto 6

Kitagawa Utamaro - Color Woodcut - Japan 1792/1793

A SEMENTE DA VERDADE 
Conto folclórico oriental 

O Imperador, já caminhando para a velhice, sentiu-se na necessidade de indicar e preparar aquele que seria o herdeiro do trono. Como não tinha filhos e nem parentes próximos, resolveu que escolheria o seu sucessor dentre as crianças do reino. Então, desta forma, as convocou para um encontro no palácio. 

Entre elas estava o neto de um mestre jardineiro. 

No dia marcado o menino dirigiu-se até o palácio, onde havia milhares de pequenos súditos. Ouviu então o Imperador dizer em tom forte e sereno: 

- Crianças, preciso escolher entre vocês aquele que será o meu sucessor. Mas para isso lhes darei uma missão. E aquele que cumpri-la será o futuro imperador! 

O bom Imperador respirou e prosseguiu pausadamente e de forma enfática: 

- Prestem atenção: cada um de vocês levará para casa uma semente que eu lhes darei pessoalmente. Cultivem-na em um vaso e cuidem bem dela. O trono, portanto, será daquele que me trouxer, daqui um ano, a planta mais bonita! 

Ouvindo tais palavras e já de posse das sementes, as crianças se retiraram. 

Como o neto do jardineiro aprendeu o gosto pelas plantas, com certeza faria um ótimo trabalho. Preparou a terra com carinho, colocou a semente, regou-a, ofereceu a luz necessária, tudo como o avô havia lhe ensinado. 

Porém, o tempo passava e por mais que menino se esforçasse, a semente não germinava. Fez tudo o que podia ao longo do ano, mas seus esforços não adiantaram. 

O ano passou rápido para o menino... E o dia marcado pelo Imperador havia chegado, mas sua semente insistia em não germinar. Ele estava tão envergonhado que não tinha nem mesmo vontade de comparecer ao encontro. Como poderia enfrentar as outras crianças, como encarar o Imperador?! 

Triste e preocupado foi se aconselhar com o avô, que lhe disse: 

- Querido neto, o que este velho tem para lhe dizer é que seja honesto! Vá até o Imperador e diga a verdade. Diga que sua dedicação foi grande, mas a semente infelizmente não brotou. Não se envergonhe, apenas explique o que você fez. 

O menino, obediente ao avô, rumou para o palácio cheio de coragem. Entretanto, ao chegar lá, ficou ainda mais envergonhado, pois era a única criança que não levava consigo uma belíssima planta. 

O imperador chamava as crianças uma a uma e examinava os vasos. Não sorria nem esboçava contentamento. 

O neto do jardineiro ficava cada vez mais temeroso, pois se o Imperador não havia até agora aprovado aquelas plantas maravilhosas, o que não diria de seu vaso contendo apenas terra?! 

O menino foi ficando para trás e quando se deu conta, era o último da fila. Mas sua vez chegou e ele não poderia mais adiar o temido encontro com o Imperador. 

- E você meu jovem, o que tem aí para mim? - Falou o Imperador com sua voz firme e penetrante. 

O menino não pode conter as lágrimas... Com a cabeça baixa mostrou o vaso ao Imperador e disse: 

- Senhor, sou neto de um grande jardineiro, aprendi com ele a cuidar das plantas e a respeitá-las. No entanto, por mais que eu tenha me esforçado, a semente não brotou. Meu avô ajudou também a pensar sobre o que lhe diria neste momento e optei por dizer a verdade, contar meu esforço e pedir-lhe perdão. 

O Imperador ajoelhou-se diante do jovem aprendiz de jardineiro e, olhando nos seus olhos, lhe disse de forma carinhosa: 

- Não se envergonhe criança, você fez o que pôde. 

Após dizer estas palavras, o Imperador se levantou com um brilho nos olhos e disse para a multidão que aguardava ansiosa por um resultado: 

- Eis aqui aquele que prepararei para ser o seu governante. Eis aqui o meu sucessor! 

As crianças e, principalmente, os pais que as acompanhavam entreolharam-se indignadas e antes que ousassem questionar sobre a escolha, o Imperador foi logo dizendo: 

- Permitam-me explicar: eu havia queimado todas as sementes antes de entregá-las às crianças. Portanto, nenhuma delas germinaria. E entre todas as crianças que aqui estão, o jovem jardineiro foi a única que plantou a semente da verdade! 




Caros amigos, 

este conto nos revela a importância da honestidade e da sinceridade. 

O código de honra dos Samurais prega que não existem meios tons nas questões envolvendo honestidade e justiça. Só existe o certo e o errado. 

Dizer a verdade, no entanto, não significa usar as nossas competências para encontrar falhas nos outros e denunciá-las. 

A verdade, quando expressa da forma correta, deve ser uma ferramenta para auxiliar o próximo, para iluminá-lo e não para magoá-lo. 

Continuemos sempre no caminho do bem e da verdade que liberta. E, desta forma, sejamos felizes! 

Boa reflexão! 
Sensei Julio Mario 





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