segunda-feira, 13 de março de 2023

Filosofando... 6 - Sobre a importância do erro

Chojun Miyagi e seus discípulos - Fonte: Artes do Japão - <https://artesdojapao.com/2012/10/karate-do-goju-ryu/> - Acesso em mar. 2023

Sobre a importância do erro

Existem algumas características que comportam o status de tornar os humanos, de fato, humanos. Humanos com “H” maiúsculo, homo sapiens sapiens, humanizados e humanizantes, ou seja, características que criam, em nós, uma identidade universal, reconhecida por nós mesmos, o que consequentemente refletem no reconhecimento do outro como Ser Humano, compreendendo o outro.

A parte fisiológica é clássica, pois caracterizar um ser bípede é singular, único. Andamos sobre dois pés e pernas, não andamos sobre quatro patas. Temos, também, uma condição motora nas mãos que parece detalhe, mas, nos faz Humanos: um polegar opositor, que nos proporciona o movimento de pinça, facilitando a coleta e apropriação física de objetos, em geral. Ainda sobre a condição física, elencamos a quantidade de dentes, o tamanho da mandíbula, da caixa craniana, dos artelhos, das características das pelagens etc. Existem os fatores que são abstratos, tais como a emergência da arte, da fundação dos mitos, da Religião e Espiritualidade, da própria Filosofia e inclusive das Ciências. Todos esses elementos são singularmente Humanos, humanizados e humanizadores.

Porém, há uma relação entre os elementos abstratos e os físicos, que chamamos de TÉCNICAS. Essas, por sua vez, são formas variadas de atividades que transformam a natureza humana, tanto externamente (agricultura, pecuária, metalurgia, rituais em geral e inclusive Arte Marcial) quanto internamente (recondiciona reflexões, gera impressões, forma o caráter moral e inclusive o caráter civilizatório). E, justamente, quando avançamos na análise das técnicas, chegamos a um fator fundamental da evolução humana: o erro. O erro de técnicas é um elemento essencial da característica humana, e foi a atividade central da evolução humana, pois o erro de uma técnica levou ao aperfeiçoamento não só do uso de uma técnica, mas também da reflexão sobre a mesma, das hipóteses dos efeitos dessa técnica.

Erro primordial para a evolução? Sim. Mais do que isso, o erro ainda é um princípio de conhecimento e autoconhecimento que nos leva aos inúmero gêneros tecnológicos arrojados dos nossos objetos cotidianos e a uma reflexão nuclear: existem diferentes tipos de erros, sendo cinco categorias as mais expressivas, visíveis e básicas: errar por ignorância teórica; por ignorância prática, por ignorância técnica, por ignorância metodológica e por ignorância pura.

Respectivamente, em grosso modo: errar porque não sabe o que está fazendo; errar porque sabe o que está fazendo, mas nunca o fez; errar porque sabe o que está fazendo, já fez, mas falhou em parte do processo; errar porque compreende todo o processo, mas não revisou e repetiu suas etapas e, o último, errar porque quer errar. Nos quatro primeiros, percebemos a carência que os erros trazem: carência de estudos, de leituras, de experimentos, métodos eficientes e reflexões sobre todo o processo de aplicação de técnicas. No último, percebemos um fator absurdo: a maldade, a maleficência, o prejuízo, a carência de reflexões morais, de pilares éticos, de alteridade, de compaixão, de Humanidade.

É muito curioso chegar a uma sentença absurda: o erro humaniza, aperfeiçoa, produz inovação, traz a evolução na sua função material mais visível, porém, pode se tornar o instrumento de desumanização de indivíduos, de suas relações e de seu cotidiano, de mortes, catástrofes, genocídios, crimes, impunidade e, tão notório quanto todo o conteúdo anterior, o errar por errar é a insígnia do retrocesso intelectual, do desapego com a verdade, da ausência de compromisso com o conhecimento universal, é a pá de cal sobre os princípios mais esclarecidos e iluminados da humanidade que são a arte, a mitologia, a religião, a espiritualidade, a filosofia, as ciências e o senso comum, ou seja, o erro do bem.

E o absurdo, já se perguntou o que é um absurdo?




Escrito por:
Pedro Pires de Oliveira Neto - 2o.Kyu
Docente em História, Filosofia e Sociologia
Cientista Social - Faculdade de Ciências e Letras - Araraquara - UNESP








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